PORTO - PORTUGAL

PORTO - PORTUGAL
porto

quarta-feira, 9 de março de 2011

CONVITE INESPERADO

                                        CONVITE INESPERADO.
                                      (versão reduzida pro blog)
     O corpo estava desgastado do dia anterior, mal sabia ele o que o esperava. O inesperado.
 A rotina estava prestes a ser quebrada, ao abrir a porta ele caminha como de costume para pegar o jornal rente á sua porta sob o tapete de boas vindas, da mesma forma de sempre, o jornal, persiste em vender a maldade do cotidiano de nossa humanidade, as mesmas noticiais, nada de novo.
 Marido que mata a mulher, uma nova doença, epidemias, um novo tributo.

A calçada refletia o que havia no seu coração, um limbo escuro de bolor e umidade nas laterais do caminho á rua, dor , sofrimento e tristeza e que estavam em seu coração.

     Cada passo dado, um ciclo contínuo e perpétuo, de repente o “dèjá vu” se exauri, ele para no meio do caminho, vira a sua face para a esquerda de seu ombro e nota aquela roseira que há muito tempo não brota.
          A roseira seca, cerca de 8 a 12 talos desuniformes, com um em sua direita, o quarto talo com um pequeno botão, curvado em sua direção, quase que como lhe pedindo uma reverencia, num mega esforço de tentar se levantar para direção ao sol.
Ele sorri, pois vê ali um pequeno botão de esperança que traz para aquele dia um novo alvorecer, mudanças. Pensa ele de forma incrédula.

      Continua a andar e após pegar seu jornal, percebe em sua caixa de correio um cartão, cinza de papel poroso, nota ao canto esquerdo um respingo de café. Pensa ele, o que mais seria?  A mancha inconfundível marrom escura.
          Já em suas mãos calejadas, leva o envelope devagar rente ao seu nariz, e em um respiro direto e curto, confirma seu pensamento, é café.

A humanidade se apresenta na forma da curiosidade e ao mesmo tempo, receosa, quem enviaria uma carta além dos credores e cobradores de dívidas?
Vira o envelope para o outro lado para calar a pergunta de sua mente, remetente.
“Comissão de formatura 1992.”
Pensou encucado e ao mesmo tempo entusiasmado, porque não enviaram um e-mail, ou sms?
Algo realmente diferente, a carta, não era apenas um convite, era algo mais amplo, um gosto de nostalgia.
...

      Após ler o convite, a alegria a ansiedade aquece seu coração, contente por saber que está vivo. Quanto poder teve aquele convite !  No entanto, algo lhe estava atormentando á mente.
      Rever seus amigos, contar seus pequenos sucessos e grandes fracassos, falar de possíveis desencontros.
A expectativa assume a postura de ácido em sua mente, correndo pouco a pouco, na perspectiva de parar só no grande encontro. Sua juventude, descobrimento, todas as sensações de sua outrora juventude reflorescem, assim, como aquele curvo botão que tenta olhar ao sol.
          Agora ele era o botão, o convite o sol!

   ...

O calafrio arranha seu estômago, suas pálpebras estão seca, qual o melhor perfume?
Perguntas aparentemente simples se tornam tão complexas.

Agora entendo as mulheres!
Pensa de forma irônica no fundo de seus pensamentos.
O homem agora já não tão homem, cede lugar para o garoto do colegial rejuvenescido, presente novamente.

A paixão, medo tão próprio do adolescente adulto.

       Após todo o ritual de preparação chega a hora. A maçaneta da porta parece estar fundida, a sua mão tremula não consegue virar. Nem tanto pela força, mais pelo medo que a mente lhe causa.

       A lembrança lhe vêm à tona, Cintia estará lá ? Uma doce e meiga amiga, se depende-se dele nem tão amiga e mais deusa de seu ser. A sua Afrodite. Doce tâmara de seu recôndito objeto de desejo.

          A calçada já lavada, o bolor e a umidade dão lugar a um branco pálido desbotado pelo tempo. Ele lembra e vira sua cabeça para a roseira, o botão já retumbante com suas pétalas abertas, seu vermelho vivo, forte e aveludado, já não está curvo. O sol e sua direção foram alcançados.
          A roseira está viva, e o botão não está mais sozinho, seria este um sinal, rever os companheiros, amigos e amigas, suas deusas.
...      
      A o vencer seus monstros internos, chega na Escola.
O muro de tantas confidências está diferente, todo grafitado, disseram-lhe que foi concedida permissão. Contudo, ele não consegue entender, será que isso é arte ? Indaga-se!

      Pouco a pouco vê que os tempos são outros, e ele também. Quando já estava rente ao portão, algo de inesperado acontece. As suas pernas travam, uma dor enorme em sua espinha sob por meio de seu braço esquerdo, sua vista fica enegrecida, o gigante dobra os joelhos, estatelando o corpo como que tivesse ocorrido uma implosão.
Batendo a cabeça na guia, seu crânio já não contém as lembranças nem memórias ou ansiedades.

       Todos reunidos em volta do seu corpo, gélido, morto!

Falam de suas ações, de suas qualidades como se o homem fosse perfeito em toda a sua vida. Por mais crápula que tenha sido. Muitos sem mesmo conhece-lo, as piadas são contadas em meio a murmúrios, talvez para não lembrar que o mal inesperado sobrevém a todos ali.

       O botão de sua roseira, se tornou uma flor, no dia de seu enterro, as pétalas não demonstravam mais o mesmo rigor, pouco ao pouco, as pétalas voltaram a cair, a sua roseira voltou para o estado inicial. Inerte, só restaram os talos.
                                                                   Autor Marcelo Guanaes